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Hipocrisia, velho comportamento humano.

Um dos relatos da hipocrisia humana que mais me impressiona é o da mulher adúltera, encontrado na Bíblia no livro de João, e sempre me emociono ao observar a atitude de justiça, de misericórdia e de amor ao ser humano demostrada por Jesus àquela mulher que foi levada a ele pelos mestres da lei e os fariseus, acusando-a de ter sido pega em adultério e pela lei, ela deveria ser apedrejada até à morte. Jesus sabendo da intenção real deles, inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela“. Foram saindo, um de cada vez e a multidão se dispersou. . .

Além de hipócritas, eram machistas, por que a lei dizia que tanto o homem quanto a mulher que adulterassem, deveriam ser executados.

Julgar e até condenar os outros é fácil. Há um certo sadismo manifesto nestes atos. “Pimenta nos olhos dos outros é refresco“.

Quantas vezes apontamos os erros dos outros e “esquecemos” dos nossos. E quando encontramos a quem acusar, que frisson. Aliviamos as nossas culpas, podemos continuar com o teatrinho costumeiro; colocamos a máscara escolhida para a ocasião e saímos desobrigados com a verdade, prontos para, aliados a outros hipócritas, entrar em cena e fazer caras e bocas indignados com a atitude de fulanos e beltranos. Se fosse a nossa vez de atirar a primeira pedra, como no caso citado acima, não ficaria ninguém para ver a cena final.

A hipocrisia é sempre desumana, mas ao lidar com o gênero feminino, ela se mostra ainda mais cruel e dissimulada. Por interesse puramente capitalista, libertadas foram as mulheres das portas de suas casas para que pudessem trabalhar (afinal a mão de obra tornara-se escassa) mas em condições, como sempre, inferiores às dos homens. Começou o uso para benefício dos empresários, os dominadores do mundo. Não devemos negar que foi um gancho, e que as mulheres inteligentes e trabalhadoras viram uma oportunidade, o primeiro passo à sua liberdade; no início era para algumas somente econômica, mas o anseio por igualdade, liberdade, foi mais forte e começamos a aprender a soltar os grilhões impostos às nossas mentes e chegamos aonde estamos. Não pensem os senhores “donos do caminho da humanidade” - grandes empresários/políticos, que não percebemos que essa liberdade dada por vós a nós, não passou e continua a não passar do uso de mão de obra mais barata. Os homens também estão inseridos neste contexto, o uso é mais disfarçado, mas também é. Independente da História e Estórias, nós mulheres temos, sim, que desempenhar o nosso papel com dignidade, conhecimento, confiança; orgulhosas do que realmente conseguimos conquistar e que vai além, muito além do entendimento dos homens. Devemos estar atentas para não entrar nesse jogo de uso do poder, não permitir que a mídia exerça a força de manipular os pensamentos e sentimentos. Mulheres e homens, ambos alvos dos interesses do capitalismo selvagem. Enquanto a “guerra dos sexos” permanecerem nessa batalha, menos tempo temos para nós; relacionamentos desgastando-se ou nem mesmo acontecendo e eles, os senhores-feudais-capitalistas claro, continuam a jogar.

Somos dotados de inteligência e devemos canalizá-la para nos tornarmos seres humanos competentes, responsáveis com a sociedade. Cada um com sua formação, com seu potencial, mas sempre procurando fazer o

melhor do que vier às nossas mãos. Contribuir com os nossos conhecimentos e habilidades para construir uma sociedade justa, culta, deve ser o nosso primeiro e maior motivador para entrarmos, estarmos no mercado de trabalho. Conciliar amor-trabalho-respeito, lutar uma luta justa sem manipulação, sem hipocrisia. “Ser” o que não somos, além de irreal é medíocre. O poder não está no que tenho - bens materiais - mas sim em quem eu sou como pessoa.

Lembrando Betinho, Henfil e Chico Mário - “Dignidade como pessoas” - “indignidade contra a injustiça” - “Expulsar a hipocrisia de dentro das pessoas”.

“Os castores constroem diques que levam 200 anos para serem construídos, e eles não vivem 200 anos”. Conheci esta lição de vida através do Betinho .

E você, o que tem construído para os que virão?!

"Voe, vá ao encontro dos teus sonhos, não deixe eles morrerem"
Neusa A. Mendes


O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.
(trecho de um poema de Fernando Pessoa, musicado por Chico Mário, procure ouvir)


O bebado e a equilibrista (Aldir Blanc/João Bosco)

Interprete: Elis Regina

Neusa A Mendes


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