Este blog é postado em ordem cronológica. Os textos mais recentes encontram-se na parte mais baixa da página.

Ver postagens mais recentes, clique AQUI.

Crescer... crescendo para ser feliz!

Simplesmente Refletir


Haverá sempre um tempo para sermos o que seremos
quando decidirmos ser. Sonhar só custa ter esperança
em poder simplesmente... ser.
Neusa A. Mendes

Assuntos a serem debatidos

Clique na figura para ampliar

POR QUE?

Foto de propriedade da APAV

_ "A mão que afaga é a mesma que apedreja"

Augusto dos Anjos

Caminhos da Mulher

Com a necessidade/oportunidade da mulher entrar no mercado de trabalho, em razão da revolução industrial na Inglaterra e das duas grandes guerras, a mulher se tornou "um ser produtivo". O homem começou, aí, a dividir o papel de provedor.
A mulher começa a incorporar na sua personalidade a realidade que homem e mulher devem andar lado a lado. Seu papel como cidadã começa a dar seus passos, pequenos (talvez) mas firmes, em meio a uma luta silenciosa ou não contra uma cidadania tão estrogênica, há que se definir o rumo a tomar em busca da sua individualidade. Muitas mulheres sofreram perseguições, até tiveram suas vidas ceifadas, para que hoje nós pudessemos ser o que somos. Livres, com direitos iguais/semelhantes.
Há mulheres presidentas, cientistas, grandes empresárias, na bolsa de valores, até jogadoras de futebol (com medalha de ouro e tudo, hein!). Vitórias, vitórias, vitórias, mas ao adquirirmos direitos, os deveres e obrigações, vieram também.
O que eu percebo no meu dia a dia como terapeuta, é que há mulheres que estão conscientes de seus direitos e deveres e vão à luta em busca do seu espaço no "mundo da mulher atual", opção consciente. Mas, por outro lado, há as que seguem esse caminho por necessidade, por não poderem viver o seu "sonho" que um príncipe encantado as fará viver feliz para sempre. Não se pode negar que as mulheres conscientes de sua emancipação ou as que se emanciparam por força das circunstâncias; são lutadoras, verdadeiras guerreiras (com guerras silenciosas ou não).
Temos que estar atentas aos contrastes afetivos entre homens e mulheres. Esse é um dos assuntos que estaremos tratando mais adiante.
Neusa A. Mendes

Questões psicológicas e sociais sobre a emancipação da mulher

Não sou feminista mas também não compartilho a opinião de que a mulher foi feita para servir ao homem (marido) e à família; mas penso que é nesse papel que determinadas mulheres se realizam. Não temos o direito de julga-las pejorativamente.

O ideal de realização pessoal tem que ser realmente compromissado com o eu interior. Não se faz ninguém feliz se não for feliz. Talvez, historicamente falando, a mulher tenha sido condicionada a “ser realizada” atrelada à figura masculina, como aquele que a dará o papel de senhora, mulher respeitada, mãe de família; fantasia própria da mulher e seus valores subjetivos.

Avaliando como papéis a serem desempenhados ou decisões culturalmente introjetadas, vemos que há um caminho sendo percorrido pelas mulheres. É um caminho psicológico e social que deve ser analisado com olhos neutros e não só com os que reafirmam a posição pré-concebida. Muito foi conquistado (socialmente falando), mas, como escreveu Cyro Martins, no seu livro “A Mulher na Sociedade Atual”, a mulher mantém uma atitude de ambivalência ante o seu ideal de emancipação social.

Neusa A. Mendes










Real ou imaginária é uma cena bonita de se ver. Ela é possível e importante na vida da mulher, tanto daquela que está no mercado de trabalho quanto da que somente desempenha o papel de mulher dona-de-casa.

E nós... aonde e como vamos?

Preocupa-me o fato de perceber nas mulheres que tenho tido contato, que conquistar independência pessoal, tornou-se uma obrigação e não uma realização. Sinto no discurso e no gestual que, talvez, algumas mulheres entrem inconsciente ou até conscientemente em um jogo em que elas podem ser iguais ou melhores que os homens. Fica nítida a disputa pelo poder, ainda que velado.
A mulher e o homem se bem entrosados, tornam-se parceiros, companheiros e até cúmplices nas suas buscas para serem pessoas bem "resolvidas". Sabendo ou imaginando essa relação bem sucedida, a mulher mantém o seu lado "feminino" aberto para um relacionamento de igualdade psicossocial com o homem. Mas o seu inconsciente social fica à espera de poder mostrar o seu domínio “psicológico”, domínio esse disfarçado de algumas maneiras que a faz afastar-se cada vez mais desse relacionamento.
Fique claro que não estou colocando o homem como vítima ou vilão, afinal, são anos de reprodução coletiva do machismo, que os levam a um comportamento machista declarado ou não. A sensibilidade da mulher confundida com delicadeza e sua fragilidade física confundida com fragilidade emocional, levaram e levam até hoje os machistas disfarçados, invisíveis, a continuarem nessa postura.
Nós mulheres, já conquistamos igualdade de direitos profissionais, basta conquistarmos as mesmas oportunidades no mercado de trabalho, de respeito à voz política ativa, enfim, de sermos olhadas e vistas como “cidadãos” do sexo feminino.
Há sempre que se tomar cuidado para não nos tornarmos nós mesmas as machistas do jogo. O sexo, somente este, é que é diferente. Estrogênio e testosterona: apenas essa, é a diferença entre os dois. Portanto cautela e sabedoria são mecanismos fundamentais para que as mulheres (infelizmente ainda) provem aos outros e a si próprias que somos iguais, apenas com características diferentes.
Homem e mulher, que dupla legal; juntos são capazes de fazer filhos, de construírem as mesmas idéias com nuances diferentes, tornando-as perfeitas.
Muito há que se falar dos medos incutidos no DNA social feminino, bem sei que o medo é um péssimo aliado do qual lançamos mão como mecanismo de defesa, nós por sentirmo-nos inseguras com papéis de mãe carinhosa e mulher que se entrega completamente ao homem, e eles por acharem que a sua masculinidade corre perigo quando buscamos simplesmente o que todo ser humano busca , o direito de ser ... Livre.

Neusa A. Mendes



Entre lendas e tradições

“Cícero havia explicado que as mulheres deviam ficar submetidas a guardiões masculinos devido à debilidade de seu intelecto. As romanas passavam de um varão às mãos de outro varão. O pai que casava a filha podia cede-la ao marido como propriedade ou entregá-la como empréstimo. Fosse, o como fosse, o que importava era o dote, o patrimônio, a herança: do prazer cuidavam as escravas. Os médicos romanos acreditavam, como Aristóteles, que as mulheres todas,patrícias, plebéias ou escravas, tinham menos dentes e menos cérebro que os homens e que nos dias de menstruação embaçavam os espelhos com um véu avermelhado. Plínio, o Velho, a maior autoridade cientifica do império, demonstrou que a mulher menstruada azedava o vinho novo, esterilizava as colheitas, secava as sementes e as frutas, matava os enxertos das plantas e os enxames de abelhas, enferrujava o bronze e enlouquecia os cães.” (texto extraído do livro ESPELHOS ,uma história quase universal, Eduardo Galeano)
Triste, chego a ficar com os olhos marejados de lágrimas. Tento entender o porque de tais crenças; mais nas entrelinhas vejo um sentimento constrangedor de medo do poder da mulher, mesmo sendo tão desqualificada , os homens imputaram nelas, a capacidade de torná-los fracos, impotentes diante a força da natureza vinda da mulher: O seu sangue.
E hoje mulheres?! Como eles nos vêem, como nós os ameaçamos. Nego-me a crer, que seja pela “igualdade” adquirida. Nossas conquistas não colocam os homens em perigo; eles continuam exercendo seus papéis pré-estabelecidos. Tornei-me um orelhão ambulante com as minhas antenas sempre ligadas. Ouço conversas entre as mulheres que confesso, me arrepiam. Está a mulher tornando-se um ser tão diferente; suas crenças e valores estão sendo deformados que um dia seremos alvo de alguma lenda? !. . .
Prudência, comportamento fundamental para qualquer decisão a ser tomada. Sabedoria,essencial para se viver. Amor-próprio, sem ele, deixamos que o outros nos vejam como eles nos desejam ver.
Neusa A Mendes

Ter ou não ter filhos, eis a questão.

A mulher foi escolhida para engravidar. Nosso corpo foi constituído de útero, ovários, seios, hormônios, para que possamos procriar. Fisiologicamente estamos aptas para tal tarefa (fora algumas exceções). Nosso corpo muda, há alguém crescendo dentro de nós; sou mãe por opção e confesso que essa foi a minha primeira grande realização. Mas a maternidade também é recebida com alguns conflitos; a perda do respeito dos pais, a perda de um corpo com curvas, sem marcas, a perda do seu tempo, poder dormir à noite toda, acordar na hora desejada (acho que nos fins de semana), a liberdade de ir e vir. Apesar de saber que são conflitos reais, entendo melhor como medo. Medo do novo, de não conseguir ser responsável por uma vida, uma criaturinha que nos emociona, mas que dá medo. Mas tão logo ela nasce, você se apaixona de uma forma irreversível por essa "pessoinha" que por vezes nos faz pensar como era possível ser feliz antes dela. Querer ser mãe, deixar-se engravidar é uma decisão que deve ser mais racional do que emocional. Por isso respeito e apoio as mulheres que optam por não fazerem parte desse grupo. Afinal ela é dona do seu corpo, do seu tempo e do seu querer.
Relatos aflitos de mães que deixaram de realizar alguns sonhos porque o "casamento" lhes impôs essa condição: -"Casou-se e agora já pode ter filhos", nos mostram que tornaram-se infelizes, não pelos filhos, mas, pela imposição de te-los. O que lhes é imposto mina as energias, sufoca os sonhos e enfraquece determinações. Ser mãe não anula na mulher o ser produtiva socialmente, não lhe tira o direito de trabalhar, de se fazer bonita,
de se gostar. O que extirpa da mulher sua feminilidade e a sua liberdade é a imposição.
"Mulher que não é mãe, não é realizada como mulher" - mito, puro mito. A maternidade faz feliz a mulher que quer ser mãe, que usa as suas condições psicológicas e fisiológicas para decidir se quer que o seu corpo geste ou não. Tendo a certeza que qualquer das duas decisões não será nenhum impedimento para ser feliz e realizada.

Neusa A. Mendes



Seus pezinhos, meu amor, agora tão frágeis, mas o seu corpo também o é. Eles te sustentam mas você é toda a fragilidade.
Vendo você assim tão indefesa, sinto vontade de chorar, chorar como agora, mas é de felicidade por saber que a menina que você é agora, um dia crescerá, será uma mulher e seus pés agora tão frágeis levaram você para a vida, para o mundo, para aonde o seu coração mandar.
É lindo, meu amor, é singelo vê-la evoluir: Bebê... menina... mulher, você é a evolução humana, você é parte desta coisa maravilhosa chamada ser humano. Você é parte da minha evolução, você veio de mim, isso me realiza.
Obrigada, meu amor, por você ser assim tão meiga, tão real, tão espontânea. Amo a criança que você é. Amo você minha criança, minha futura mulher!
Para minha filha Tatiana - 1981.

Amor bandido

Sempre me questionei do porque de uma pessoa amar a outra e anular-se. Deixar dominar-se, ser maltratada, desvalorizada, humilhada, desrespeitada na sua condição de pessoa.

Como terapeuta tenho algumas respostas, aprendidas no meu percurso acadêmico. A psicanálise enumera, e muito bem, todas as questões que podem levar uma pessoa a anular-se. Aprendi que um pai tirano e uma mãe omissa ou vice-versa, roubam a auto-estima; que os maus tratos físicos e psicológicos na infância, adolescência e até na vida adulta, são fertilizantes para tornar uma pessoa potencialmente fraca, a fraqueza torna-se a sua força, sua arma de defesa. Como uma praga que ataca o tronco de uma árvore, deixando-a doente a ponto de matá-la; da mesma forma as pragas que atacam o nosso psique, (Freud, Lacan, Jung e outros, as descrevem sabiamente), as tornam presas fáceis dos inescrupulosos. Os psicopatas são mestres em fareja-las. Há tantos psicopatas circulando entre nós e nem nos damos conta que aquela pessoa tão sedutora (narcisista) - prestativa (predadora) – compreensiva (dissimulada) – conselheira (dominadora), tão coitadinha, tão incompreendida, seja um deles. São bons manipuladores, aproximam-se e atacam suavemente e você nem percebe que caiu nas suas mãos, se apaixona, e ai começa o seu pesadelo. Vários motivos levam uma pessoa a ficar nesse tipo de relação sádica, onde o caçador domina totalmente sua presa. Como a minha proposta é falar de mulheres, vou me deter nas mulheres-vítimas, que são submetidas constantemente à humilhação, maus tratos físicos e emocionais.

Para mim, como mulher e terapeuta ao lidar frente a frente com essa realidade, sei o quão doloroso e revoltante é quando uma mulher espancada e humilhada, sem forças para tomar qualquer decisão a seu favor porque não há esperança no seu sofrimento, incapaz de reagir diante dessa dominação, chega em busca de ajuda com os olhos sem vida, pedindo literalmente socorro. O primeiro passo é fazê-la perceber que o aparentemente “ simples fato “ dela estar procurando ajuda é determinante para sua libertação. É gratificante vê-la lutando a seu favor. A cada sessão, descobertas são feitas e medos se vão e o brilho nos olhos começa a voltar.

Ledo engano quem pensa que só as mulheres de classe cultural e econômica baixa passam por essa relação obsessiva; mulheres de todos os níveis sócio-econômicos neste instante estão sendo submetidas a uma relação de amor bandido. Bandido é aquele que rouba as suas forças, os seu ideais, que anula seus valores morais e éticos. É aquele que agride, que te faz impotente, te domina e rouba a sua essência, a sua condição de Ser Humano. Da mesma forma que me emociono com essas pacientes no primeiro encontro também no último, após muitos momentos de lágrimas, dores, medos, verdades e mentiras que se misturam à sua realidade. Sabe e sente de fato quem ela é, o que a prendia nesse cativeiro de portas abertas, mas com trancas na mente que agora não tem mais domínio sobre ela. Após muitas descobertas e aceitação final, quando está pronta para seguir o seu caminho, a emoção é algo indescritível. A sensação que tenho sempre é de estar vendo uma gaiola aberta e o pássaro voando; mas voando com rumo certo, sabendo aonde pode e quer chegar. Cada uma com seus sonhos, não importa se grandes ou pequenos, mas são os seus sonhos - só seus.


Sonhar todo sonho impossível

Lutar quando é fácil ceder

Vencer o inimigo invencível

Negar quando a regra é render(...)

Quantas guerras terei que vencer

Por um pouco de paz(...)

E assim, seja lá como for

Vai ter fim a infinita aflição

E o mundo vai ver uma flor

Brotar do impossível chão

Apesar de você

amanhã há de ser outro dia(...)

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão, não.

A minha gente hoje anda

Falando de lado e olhando pro chão.

"Ah, tirania bandida que se manifesta no desamor ao povo.

É amor bandido, o governo diz que cuida mas rouba." (Neusa A. Mendes)

Você vai pagar, e é dobrado,

Cada lágrima rolada

Nesse meu penar.

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros. Juro!

Todo esse amor reprimido,

Esse grito contido,

E o mundo vai ver uma flor

Brotar do impossível chão

(Chico Buarque)

Neusa A. Mendes


Hipocrisia, velho comportamento humano.

Um dos relatos da hipocrisia humana que mais me impressiona é o da mulher adúltera, encontrado na Bíblia no livro de João, e sempre me emociono ao observar a atitude de justiça, de misericórdia e de amor ao ser humano demostrada por Jesus àquela mulher que foi levada a ele pelos mestres da lei e os fariseus, acusando-a de ter sido pega em adultério e pela lei, ela deveria ser apedrejada até à morte. Jesus sabendo da intenção real deles, inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela“. Foram saindo, um de cada vez e a multidão se dispersou. . .

Além de hipócritas, eram machistas, por que a lei dizia que tanto o homem quanto a mulher que adulterassem, deveriam ser executados.

Julgar e até condenar os outros é fácil. Há um certo sadismo manifesto nestes atos. “Pimenta nos olhos dos outros é refresco“.

Quantas vezes apontamos os erros dos outros e “esquecemos” dos nossos. E quando encontramos a quem acusar, que frisson. Aliviamos as nossas culpas, podemos continuar com o teatrinho costumeiro; colocamos a máscara escolhida para a ocasião e saímos desobrigados com a verdade, prontos para, aliados a outros hipócritas, entrar em cena e fazer caras e bocas indignados com a atitude de fulanos e beltranos. Se fosse a nossa vez de atirar a primeira pedra, como no caso citado acima, não ficaria ninguém para ver a cena final.

A hipocrisia é sempre desumana, mas ao lidar com o gênero feminino, ela se mostra ainda mais cruel e dissimulada. Por interesse puramente capitalista, libertadas foram as mulheres das portas de suas casas para que pudessem trabalhar (afinal a mão de obra tornara-se escassa) mas em condições, como sempre, inferiores às dos homens. Começou o uso para benefício dos empresários, os dominadores do mundo. Não devemos negar que foi um gancho, e que as mulheres inteligentes e trabalhadoras viram uma oportunidade, o primeiro passo à sua liberdade; no início era para algumas somente econômica, mas o anseio por igualdade, liberdade, foi mais forte e começamos a aprender a soltar os grilhões impostos às nossas mentes e chegamos aonde estamos. Não pensem os senhores “donos do caminho da humanidade” - grandes empresários/políticos, que não percebemos que essa liberdade dada por vós a nós, não passou e continua a não passar do uso de mão de obra mais barata. Os homens também estão inseridos neste contexto, o uso é mais disfarçado, mas também é. Independente da História e Estórias, nós mulheres temos, sim, que desempenhar o nosso papel com dignidade, conhecimento, confiança; orgulhosas do que realmente conseguimos conquistar e que vai além, muito além do entendimento dos homens. Devemos estar atentas para não entrar nesse jogo de uso do poder, não permitir que a mídia exerça a força de manipular os pensamentos e sentimentos. Mulheres e homens, ambos alvos dos interesses do capitalismo selvagem. Enquanto a “guerra dos sexos” permanecerem nessa batalha, menos tempo temos para nós; relacionamentos desgastando-se ou nem mesmo acontecendo e eles, os senhores-feudais-capitalistas claro, continuam a jogar.

Somos dotados de inteligência e devemos canalizá-la para nos tornarmos seres humanos competentes, responsáveis com a sociedade. Cada um com sua formação, com seu potencial, mas sempre procurando fazer o

melhor do que vier às nossas mãos. Contribuir com os nossos conhecimentos e habilidades para construir uma sociedade justa, culta, deve ser o nosso primeiro e maior motivador para entrarmos, estarmos no mercado de trabalho. Conciliar amor-trabalho-respeito, lutar uma luta justa sem manipulação, sem hipocrisia. “Ser” o que não somos, além de irreal é medíocre. O poder não está no que tenho - bens materiais - mas sim em quem eu sou como pessoa.

Lembrando Betinho, Henfil e Chico Mário - “Dignidade como pessoas” - “indignidade contra a injustiça” - “Expulsar a hipocrisia de dentro das pessoas”.

“Os castores constroem diques que levam 200 anos para serem construídos, e eles não vivem 200 anos”. Conheci esta lição de vida através do Betinho .

E você, o que tem construído para os que virão?!

"Voe, vá ao encontro dos teus sonhos, não deixe eles morrerem"
Neusa A. Mendes


O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.
(trecho de um poema de Fernando Pessoa, musicado por Chico Mário, procure ouvir)


O bebado e a equilibrista (Aldir Blanc/João Bosco)

Interprete: Elis Regina

Neusa A Mendes


A hipocrisia moral-sexual

"Quem tem suas cabras, que as prenda, porque os meus bodes estão soltos".

Insensibilidade, machismo e muita burrice; alguns pais além dos bodes também tem suas cabras, e aí como é que fica.! Ditado popular para exibir sua virilidade. Será que eles sabem o que é ser viril, ou eles pensam que se não ficarem exibindo essa tal virilidade vulgar, serão menos "homens". Com certeza eles não sabem o significado real de ser homem. - Hipocrisia, o que é

Segundo Aurélio Buarque H. Ferreira:

1) Afetação de virtude ou sentimento que não se tem.

2) Fingimento, falsidade.

Há homens que mantém suas mulheres como donas-de-casa; trabalhando fora elas manterão contato todos os dias com outros homens e a sua masculinidade corre perigo, pensam eles. O medo associado à culpa é um fantasma ao qual somos presas, eles dominam o seu psique, e a sua moral nem se fala. Nesse caso que moral, né?!

O medo da perda da virilidade, que pode ser fisiológica, ou o medo da comparação, levam geralmente os machistas de carteirinha a preferirem casar com as virgens. Assim não há como julgar, ela só conhece esse sexo e ele erroneamente se sente seguro em relação às suas proezas sexuais. Não é preciso experimentar outro parceiro para saber que o que você tem não te satisfaz. Preocupado consigo mesmo, deixa mulher em algum plano que não é o primeiro, ele não se preocupa com o que ela gostaria de experimentar, de trocar, de sentir. Geralmente "papai e mamãe" está muito bom. Afinal, existem as "Genis" pra quê? Tão usadas, tão maltratadas, tão solitárias, tão infelizes com o seu personagem nessa sociedade de uso e menosprezo. Desrespeitadas como seres humanos, passam a acreditar que é esse o seu papel, o seu destino. A sociedade hipócrita e machista, por interesse, mantém as suas "Genis" presas à essa degradante auto-análise. Libertem-se, tomem suas vidas de volta, não sirvam mais a esses porcos chauvinistas, talvez assim eles aprendam a ser homens.

E a mulher por não conversar abertamente (por várias razões) com o homem sobre sexo, também mantém esse relacionamento sexualmente hipócrita. Se falso orgasmo valesse prêmio, a maioria das mulheres teria ganhado alguns Kikitos, Palmas de Ouro, e até um Oscar! (Não entra nesse comentário as mulheres que tem algum problema psicológico e/ou fisiológico. Se você tem problemas dessa natureza, procure um médico e um psicólogo).

Os homens têm medo do poder sensual das mulheres (e viva o estrogênio). Sentem-se muitas vezes acuados diante da ousadia da sensualidade de suas parceiras e aí, ou eles castram a sensualidade de suas mulheres, ou eles vivem assombrados pelo fantasma do medo e da culpa, ou eles aprendem que sensualidade mais sexualidade, estrogênio e testosterona, rolando juntos fazem o que há de mais bonito no sexo, a cumplicidade.

Para ele:

O meu amor tem um jeito manso que é só seu

E que me deixa louca quando me beija a boca

A minha pele toda fica arrepiada

E me beija com calma e fundo

Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu

Que me deixa maluca, quando me roça a nuca

E quase me machuca com a barba mal feita

(Chico Buarque)

Para ela:

Quero sua risada mais gostosa

esse seu geito de achar que a vida

pode ser maravilhosa

Quero toda sua pouca castidade

Quero toda sua louca liberdade

Quero toda essa vontade de passar dos seu limites

e ir além, e ir além...

(Ivan Lins, Vitor Martins)

Um convite à alegria

Por onde andará? Poderia por a culpa no super-ego e classificá-lo como o grande vilão da naturalidade, o interditor das satisfações dos nossos desejos. Mas, se bem trabalhado, é o mediador entre repressão e liberdade. Válvulas de escape nos dão a chance de deixar o id (impulso primitivo) se manifestar com liberdade em condições “Moralmente” justificadas, segundo os padrões da cultura vigente. No carnaval, os impulsos mais primários e sem limites seguem livremente liberando seus desejos reprimidos. O super-ego é necessário sim, já que cabe a ele, ser a ferramenta que nos põe na linha; é o orientador que tenta, coitado, manter a sociedade “civilizada”. Civilizada?! Nos percebo, cada vez mais, nos castrando de nossos sonhos, de nossa felicidade, da alegria. Quanto mais aprendemos, menos sabemos. Sabotagem pura! O homem desaprendeu ser feliz, esqueceu-se, talvez, de olhar para trás e rever os sonhos sonhados na infância, na juventude.

Somos passageiros do tempo e me lembrei de uma menina, lá do passado, que por força das circunstâncias, vivia numa casa de neuróticos (ainda bem que não era de sua família). Essa menina tinha algo diferente, nascera com um humor muito especial, seu aliado para toda a sua vida. Situações que a causavam tristeza, humilhação e maus tratos emocionais, não contaminavam o seu humor, ela sorria e sua alegria era sua força para suportar e superar aqueles tempos. Hoje, mulher, a sua gargalhada é a marca de sua alegria e do seu bom humor contagiante. Existem momentos de dor, medo, insatisfações, perdas, enfim, tudo que um ser humano vive; mas essa mulher escolheu por manter-se alegre. Voltando àquela menina, um dia ela soube que o casulo de uma lagarta estava para romper; sentadinha, com os olhinhos fixos e muito vivos, ela esperou por um bom tempo, até . . . que coisa linda! Uma borboleta preto-amarelada, saiu e . . . voou livre para seguir o seu destino. Acho que o bom humor daquela menina, era o seu casulo, onde se protegia esperando o momento certo para sair e saiu – forte, livre para o seu destino. Voltando à mulher, ela aprendeu com a menina que ser feliz é uma opção de vida e não uma condição da vida. Voltando àquela menina, sonhar era com ela mesma; à noite, escondida na biblioteca da casa, ela ouvia bem baixinho música clássica e deixava a sua imaginação alçar longos voos; sonhava sempre com muitos amigos, todos felizes e realizando grandes proezas.

Quanto mais sonhamos, mas ampliamos as chances de sermos felizes. Fugir do mundo reduzindo pessoas ao nosso redor, interessando-se menos por mais coisas que a vida nos oferece, diminui os nossos horizontes. Quanto mais objetivos temos na vida, maiores são as oportunidades de encontrarmos a felicidade. GENTE FELIZ TRANSFORMA O AMBIENTE, contagia o ar tornando-o mais leve, gente feliz faz bem à saúde (deveria ter um slogan assim espalhado pelas cidades, nas portas das casas, das escolas). Ser Feliz é prazeroso.

Pensar e repensar sobre oque é ser feliz, deveria ser assunto de pesquisa séria; afinal, vivemos em comunidade, somos seres sociais e o que a infelicidade do outro pode trazer para as nossas realidades, é perigoso, traz consigo o poder de desestruturar, e uma sociedade assustada cria ainda mais seres infelizes. “A felicidade deve ser considerada como um bem perseguido por todos”(Bertrand Russel).

Passamos pela alegria como se fosse coisa de criança; justificamos com os nossos conflitos emocionais, o estresse do dia a dia, que nos torna cada vez mais individualistas e há aquela tendência a eleger os problemas como motivadores de nossas tristezas e nos tornamos desmerecedores da alegria. Que catarse fantástica se houvesse o Dia Internacional da Gargalhada, com hora marcada e tudo.

Há o milagre de crer, que apesar de tudo, temos um antígeno dentro de nós contra as dores da vida. Não me considerem tola, digo isso, porque venho sofrendo e praticando a alegria associada ao sorrir; uma boa gargalhada é o auge desse processo.. Pratique com alguém, a alegria é um bem precioso, é uma demostração de amor à vida e aos outros. Resgatar pessoas, agregá-las ao nosso cotidiano apenas pelo prazer de saber-se vivo.

“ Viver, e não ter a vergonha de ser feliz” (Gonzaguinha).

Fico pensando e me pergunto: - Por onde andam as borboletas? Não há mais música clássica? O sol nascendo ou se pondo? A lua cheia ou minguante, não importa? A chuva nos dias quentes? O friozinho com chocolate quente? O bate papo com os amigos? E as pessoas? Aonde elas estão? Será que perdidas nos seus sofrimentos, garantindo assim, o direito de não sentirem-se felizes? Ser e Sentir, são coisas bem diferentes , assim como, Ser e Estar também são. Nesse momento estou triste porque uma pessoa que amo está sofrendo. Mas a alegria pulsa dentro e junto com o meu coração, não há como separá-los, se isso acontecer, morro!

Saber esperar a dor passar é demostração de força interior, é ter fé. E pode ter a certeza que assim como as ondas do mar . . . vem e vão . . . como a tempestade vem e passa, assim são as dores do homem . . . vem e passam.

Desejo para você uma reflexão com resultados que o leve a optar pela alegria, buscá-la e encontrá-la; não deixe de olhar ao redor, você pode se surpreender com o quanto você tem em quantidade e qualidade de alegrias, só esperando para serem vividas. Boas Alegrias para todos vocês!

"Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz..."

(Gonzaguinha)


Uma pessoa especial me mandou um texto; motivo pelo qual decidi escrever esse artigo. Obrigada querida, dei boas gargalhadas nesses últimos dias, apesar de algumas lágrimas teimarem e participarem também das gargalhadas.

Neusa a Mendes



Mães e Filhas

Eu e minha filha sempre fomos muito amigas, aprendemos uma com a outra que a verdade e a liberdade de dizê-la foi o ponto fundamental para termos o que temos hoje. Mas o que é liberdade para falar de verdade? É falar o que vem à cabeça e passar por cima dos valores dos outros; é fazer da falta de educação e respeito uma apologia à autenticidade? Para nós duas era demonstração de cuidado, de amor. A minha parte, no meu papel de educadora, deixá-la crescer mas ensinando-lhe o caminho, procurando viver as mudanças de nossa geração mas atenta às coisas que são imutáveis e que eram necessárias serem mantidas, eu fiz; e ela fez a parte dela, ouviu respeitou, questionou quando necessário e cresceu.

Hoje mães e filhas não conseguem conversar. De um lado mães presas à educação recebida sem conseguir, e muitas nem querem tentar, mudar; e do outro lado filhas que já tem um discurso prontinho na ponta da língua. Para elas, as mães são caretas, querem mandar, não respeitam “o meu limite”, não “sacam” que a realidade agora é outra. Pensando bem, é mesmo, infelizmente. Nossos filhos estão expostos à uma realidade mais violenta, as drogas são vendidas a 1,00 real e nos lugares “mais inocentes”, bandido e polícia, já não se sabe mais quem é o vilão, fora as exceções (Existem os policiais que cumprem o seu juramento de proteger o povo). Na televisão cenas de sexo tornaram-se banais, jovens se prostituindo, famílias se desmoronando, pedofilia, internet, vídeo games demais, pracinhas vazias sem filhos e sem pais, curso disso, curso daquilo. . . Ufa! Tantas coisas compactuando para que a realidade de hoje não seja a mesma. Mas uma coisa não muda: Amor; e é esse velho e eterno sentimento a poderosa arma para juntos, mães e filhos, como numa maratona, pularem os obstáculos e chegarem a um denominador comum. Mãe, conheça os amigos de sua filha, traga-os para dentro de sua casa; sei que o corre-corre do dia é cansativo, mas não se deixe enganar pelo seu desejo de ter um fim de noite tranquilo - “Afinal, minha filha está na casa de fulana, são amigas, lá ela está segura”. O perigo está em todo lugar. Não quero botar terror, só me acho na obrigação de lembrá-la que você é responsável por sua filha. Ligue para ela, não para o celular, mas para a casa da amiga, fale com a mãe da amiga. Procure ver, no sentido literal da coisa, quem são e como são os amigos de sua filha, leve e busque nas festinhas. Isso, por mais que ela reclame, é zelo e deixe-a perceber, sem brigas, que você se importa com ela. Isso é demonstração de amor. E quando ela estiver pronta, orientada com amor por você, ela saberá caminhar sozinha e ai sim, você poderá ter noites tranquilas. A confiança foi estabelecida!.

Quanto a você, filha, com a ilusão natural dos jovens, que sabem tudo, que sua mãe é “sem noção” e com a preocupação: “O que os meus amigos vão pensar?”, saiba que tem muitos jovens, até quem sabe alguns amigos seus, que queriam estar no seu lugar, ter alguém que realmente se preocupe com eles. É natural no ser humano gostar e necessitar de ser cuidado, saber que não está à mercê da sorte, que alguém, quando é necessário, sai feito “louca” para ajudá-lo. Se você tem uma mãe assim, agradeça a Deus e dê valor ao que você tem. Busque saber sobre ela, como foi a sua juventude, troque ideias; mesmo que as coisas andem devagar, que haja resistência, não deixe de tentar. Você verá que vai existir o momento em que vocês, mãe e filha, estarão conversando como boas amigas. O amor tem o poder de dissolver pré-conceitos e fazer deles um conceito firme. Aonde há verdade e liberdade, ali haverá uma amizade sólida.



“A confiança e o respeito são sentimentos que conquistamos com o coração aberto. A amizade é consequência.”

Neusa A. Mendes


E a relação, como é que fica?

Não consigo aceitar. Entender os porquês, eu até entendo, como terapeuta, mas como mulher a pergunta não se cala. Porque? O que realmente se ganha numa discussão, onde duas pessoas que supostamente se amam, por pura pirraça (inconsciente) não dão razão um ao outro, quando este está certo.
Para falar a verdade, estou farta das pessoas dizerem que “é inconsciente ”; acho que isso está virando modismo, meus colegas que me desculpem. Sei que há Casos e casos; é sobre os casos que tentarei, junto com vocês, fazer algumas reflexões; desta vez não será do universo feminino, será do universo humano. Ô, bichinho complicado!
Tenho atendido alguns, eles e elas, e escuto, observo, analiso e no final da sessão a vontade que eu tenho é de dar uma boa surra; não que eu não faça de maneira subjetiva, mas a vontade mesmo é de pegar pelas orelhas e dar um bom pito, como nos velhos tempos se dava em criança mimada. Vejam se não tenho razão.

Paciente: Vê se eu vou dar esse mole, se der razão a ele, eu perco a minha razão, embora ele tenha falado muitas coisas com as quais eu concordo; mas ele é do tipo que se enche de si, e aí, eu vou sempre estar errada, morro de medo mas não volto atrás.

Paciente: Ela tem até razão, realmente eu sou desligado, mas se admitir, ela pega no meu pé e também tem o seguinte: se eu me ligar eu acabo fazendo tudo o que ela quer. Então faço corpo duro mesmo.

Paciente: Peguei pesado dessa vez, mas não vou pedir desculpas, ela vai achar que é coitadinha e eu é que não presto. E tem mais, se me rebaixar, ela vais achar que eu me arrependi e ai, eu perco a moral.

Paciente: Sabe, hoje eu até chorei, quase pedi desculpas e quase fui falar com ela, mas seria como se eu estivesse admitindo a culpa sozinho, eu errei, mas ela também errou e não dá o braço a torcer e assim não dá para ter diálogo. Me sinto um derrotado quando essas coisa acontecem, e essa semana foi quase toda assim.

Bem, eu vejo derrota em todos esses exemplos, derrota principalmente da relação que é devastada em nome do machismo e da “dondoquice”. Pessoas adultas, não conseguem ver o outro como seu aliado e que pedir desculpas, admitir erros, é sinal de maturidade. Abrir o coração para deixar o outro te ajudar e ajudá-lo também só produz paz, crescimento mútuo. Quem te ama te observa, te respeita; ao contrário do amor bandido, amor sadio produz frutos que podemos saborear de várias maneiras. Alguns exemplos podem ser dados, e vocês procurem os seus.

Saber ouvir: Isso nos ensina a sermos mais atentos, tanto conosco, como para com os outros.

Saber avaliar: Nos dá a chance de mudar comportamentos que muitas vezes nem notamos e que magoam e nos afastam das pessoas e o que é pior da pessoa que nos ama.

Saber falar: Nos Ensina a expor os nossos incômodos, o que desejamos da relação e permitimos, assim, que o outro tome conhecimento.

Saber respeitar: Nos ensina que o respeito tem que ser mútuo e traz cumplicidade.

Saber crescer: Nos ensina a deixar de lado o “temperamento”, os hábitos aprendidos, os quais nem sempre nos damos conta que são como armas e que usamos feito crianças mimadas, que nos fazem dar alguns passos para trás e o homem e a mulher se ferem. E há mágoas que são como infiltração, se não forem tratadas, elas minam, se espalham aproveitando qualquer brecha para sair. Até as mais sólidas paredes podem ruir; assim acontece nos relacionamentos, se não cuidamos das infiltrações que minam a relação, ela adoece e o amor pode sucumbir.

Discutir sim! Mas atentos às perdas e ganhos dessa discussão. Fazer desses momentos, que são normais nas relações, momentos para juntos terem a coragem de pedir desculpas, de ceder, de também fazerem acordos, de se tornarem parceiros nessa viagem maravilhosa que é a união de um homem e uma mulher feitos para amar e serem felizes juntos.


"Juntos, fortalecendo o seu caminhar"
Neusa A. Mendes

"São tantas coisinhas miúdas,
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa, que faz tanto mal

Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta
Eu busquei a palavra mais certa
Vê se entende o meu grito de alerta"

Gonzaguinha

Adulterar

A deformação emocional provocada pela traição é externada claramente na etimologia da palavra adultério; o verbo adulterare deriva do latim; combinados ad, que significa “para” e alter, que quer dizer “outro”. O adúltero é aquele que vai para outro. A traição não se aplica somente aos casados, qualquer relação pode ser adulterada, se outra pessoa entra na relação e corrompe o casal original, o caos foi instituído.
Antropologicamente falando “ o comportamento adúltero tem suas origens no mais distante passado do homem, quando a relação entre o homem e a mulher baseava-se mais na sobrevivência. As mulheres eram totalmente dependentes dos homens para lhes dar proteção. Essa qualidade de protetores ideais os tornava hipersexuais, e os levava a buscar outras mulheres” (Dr. Warren Farrell). Ao longo da história da humanidade, os machos eram escolhidos por sua capacidade de reproduzir. Na era medieval, homens eram sacrificados após engravidarem as mulheres dos nobres estéreis; os escravos reprodutores tinham mais “regalia”. Os tempos evoluíram, mudaram e a sobrevivência hoje é vista de outra forma. Com o “espaço conquistado pelas mulheres”, já não cabe essa aceitação, não há mais a necessidade de favores sexuais em troca de proteção e sustento, hoje as mulheres são capazes de se proteger e se sustentar, embora haja ainda mulheres subservientes. E com a igualdade adquirida as mulheres atualmente, quase chegam ao mesmo nível de infidelidade dos homens. Segundo a psicanálise (C.G.Jung) a psique masculina tem características psicológicas “fundamentais”. Os homens são mais agressivos, lógicos, dominadores, competitivos e orientados para o prazer. E lá vem mais justificativas (engulam se conseguirem) para as infidelidades deles! Essa situação natural, baseada na “seleção natural” dos plantadores de suas sementes para garantir a sobrevivência da raça humana, serve de desculpas ainda nos “tempos modernos” para os homens traírem, justificam: “são raízes do adultério”. Com isso alcançaram um “direito” muito maior do que se discute; assim como o machismo, a sociedade alimenta a infidelidade masculina (padrões reproduzidos com permissão). Os homens já evoluíram o suficiente para perceberem que o que põe em risco a raça humana é exatamente a diversificação de parceiros, mas insistem nesse comportamento. As mulheres também participam desse jogo de descaso e irresponsabilidade embora sejam vistas como “vulgares” e as mais refinadas como “moderninhas”. A sociedade no geral ainda não aceita a mulher emancipada econômica ou culturalmente (há um certo lirismo pelas “do lar”). Os homens são os garanhões: “É a natureza deles, precisam de muito sexo”. Só para lembrar, há homens jovens tomando viagra. A sociedade cria seus mitos e depois não sabem o que fazer quando a coisa foge do controle. As doenças sexualmente transmissíveis são uma prova de que perdeu-se o controle sobre essas tais “raízes do adultério”.
A infidelidade infelizmente vai muito além de raízes históricas, de psique, dos hábitos reforçados pela sociedade, etc. A infidelidade quando é puramente de caráter sexual é uma forma vulgar, um passatempo imoral. O que me tira o sono mesmo é quando a infidelidade tem como fator motivador a atual relação, o tédio no casamento, a meia idade (necessidade de auto-afirmação), insatisfações existenciais que levam a pessoa a um comportamento de pura compensação, de usar seus mecanismos de defesa contra si mesma. É muito comum apaixonar-se por outra pessoa como tentativa de achar a “paz perdida”; acaba fazendo dessa pessoa uma bengala para as suas crises existenciais, somando mais sofrimento. E há quem traia por vingança, outra grande loucura. E por falta do amor próprio onde vão parar? Na mesa de um bar?
O grande responsável pela traição é a falta do amor próprio, quem se gosta não busca prazer no que é moralmente errado. Quer para si sensações que o façam estar em harmonia com a vida, com a sua vida! Busca soluções coerentes com o seu caráter. Se está difícil viver com o outro ou consigo mesmo, busque ajuda, faça terapia procurando o auto-conhecimento.
Enquanto há pessoas que não conseguem resistir à força da tentação de trair e entregam-se a ela, há os que buscam dentro de si força para não entregar-se ao poder da tentação da traição e a sua determinação em não violar os seus ideais de pessoa íntegra, mostra que a diferença entre um e o outro é o caráter.
A traição descrita por algumas pessoas que já traíram é como uma droga que no momento do ato, os fazem sentir-se poderosos, mas depois a culpa e o vazio deixam uma lacuna em suas vidas.
Trair e desrespeitar o outro é corromper o relacionamento, é deturpação dos valores morais e éticos.
Se você é machista e acha que tudo isso não passa de uma grande caretice; acredite, você pode e provavelmente vai perder o que tem e não sabe valorizar. Vai acabar só!
E você mulher, que pensa que transgredir um pouquinho aqui, um pouquinho ali não “tira pedaço de ninguém”, cuidado que um dia a casa cai!

Neusa A. Mendes

"No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam"
Carlos Drummond de Andrade

Como é triste ver o amor se desgastando, se acabando. Onde fica o valor do amor? É triste ver um poema de amor num artigo que fala sobre traição...


As sem razões do amor


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

É hora de reconstruir!

Não gosto de separação, me entristece, mas é um fato e tenho que refletir a respeito. Quando os contratos explícitos e implícitos do casamento se rompem o casamento chega ao final, surgem sentimentos de fracasso, ressentimentos, desilusões, expectativas frustradas; o medo de enfrentar as perdas, de ter que dividir o que se achava indivisível (o outro), conscientizar-se que os sonhos idealizados juntos, não vão acontecer, que o vínculo foi partido, que há de se abrir mão de coisas que antes foram tão importantes e agora? . . O rompimento é vivido com muita dor, medo, raiva, posse, rejeição, depressão e tantos outros sentimentos dolorosos. É necessário viver o luto da perda, enterrar o que não é mais vivo para você. Em meio às muitas lágrimas, e todos sentimentos já descritos, você começa lentamente a se levantar, ou não; você pode enfrentar vivendo todo o ciclo da perda ou viver e reviver o desencontro amoroso, tornando-se uma pessoa amarga. E a dor não passa nunca, só acumula rancor e solidão. A separação é algo extremamente doloroso, a dor é visceral, é um corte profundo no seu mundo “arrumado”.
Passado o vendaval, inicia-se a desvinculação que é lenta e gradual; há um misto de alívio e falta, muito comuns nesse processo de desvinculação. No olhar retrospectivo uma duvida surge: será que eu amava uma pessoa imaginária, inventada pelo meu desejo do parceiro imaginário?
Depois da arrumação interna, e não há tempo pré-determinado, fundamental é que esta seja consolidada, a baixa auto-estima muito bem trabalhada; afinal, reconstruir. Para tal, mudanças de atitudes são necessárias, perceber-se como uma pessoa capaz de refazer sonhos, construir alicerces para esses sonhos, olhar o mundo com olhos de quem quer assumi-la com a sua capacidade de saber que sua confiança tem de vir de dentro para fora e não de fora para dentro, que a opinião do outro é importante, sim, mas não ao ponto de desestabilizá-la. Me alegra observar a capacidade que o ser humano tem de se auto-descobrir. Como somos capazes de trazer para a nossa nova identidade, novos valores, reavaliarmos conceitos e comportamentos tão arraigados e nos livrarmos deles, preencher lacunas que nem havíamos percebido que estavam lá. O novo só nasce quando nos libertamos dos velhos tabus, de rotinas nas quais nós mesmos nos confinamos. O recomeço de uma nova etapa nos dá a oportunidade de rever velhos hábitos e decidirmos se queremos que eles façam parte ou não desse novo ser.
Recomeçar uma vida após uma separação pode até significar, depois de tantas descobertas, que você não está “re-começando” e sim começando!
O novo atrai mas também assusta, bom senso é sempre bem vindo. Um novo chegar em casa, um novo deitar, um novo levantar, uma rotina nova que vai depender de como vivencia-la; novos amigos, novos assuntos novos compromissos e responsabilidades; o novo é bom. Caminhe por esse recomeço mas não se esqueça que prudência é essencial em todas as áreas da nossa vida. Aprenda mais sobre você, questione os seus conflitos, saiba discernir entre o certo e o errado para sua vida. Estando pronta, não feche o seu coração; amar é gratificante, deixe o outro novo entrar na sua vida, se dê essa oportunidade, restabeleça a crença de que um casamento bem consolidado dá certo.

Neusa A Mendes

Olhando em volta percebo o novo
O novo me invade,me provoca,me excita
me sinto mais viva; mulher e menina
Os planos transbordam e me deixam pensar
que é tão bom o novo por que posso recomeçar.
Neusa A. Mendes - 25/06/2002


"Recomeçar com passos fortes e ir além"
Neusa A. Mendes


"Eu limpei minha vida
te tirei do meu corpo
te tirei das estranhas
fiz um tipo de aborto
e por fim
nosso caso acabou,
está morto"

Letra: Nelson Gonçalves Música: Ivan Lins e Vitor Martins


Quando eu for grande


Lembro-me com saudades, bons tempos a infância de nossos filhos, guarde-a bem dentro do coração.
Perguntei à minha menina o que ela queria ser quando crescesse, prontamente respondeu-me: “Quero ser glande!” Ri muito na ocasião. Como ando meio reflexiva, venho reavaliando alguns conceitos, trazendo novos significados para alguns pensamentos. A resposta de minha menina foi óbvia, pois naquele momento de sua vida a única certeza que ela poderia ter era que queria crescer. Ela não sabia mas estava me ensinando uma grande lição.
Posso e devo desenhar planos abstratos ou reais, a realização destes ou daqueles, depende dos percalços da vida. Quando menina meu desejo e talento era para a dança, mas alguns acontecimentos me impediram de seguir por esse caminho. Hoje sou uma terapeuta que gosta de dançar e danço! Aprendi também a dançar conforme a música. Vejo pessoas que se abandonam junto com os seus projetos de vida, que se perderam pelo caminho e não conseguiram crescer. Saber crescer todos os dias é um aprendizado valioso. Tenho como presente diário, a chance de ver pessoas com vidas tão distintas umas das outras, mas procurando a mesma coisa; encontrar-se, saber qual é o seu papel principal e como vive-lo nessa grande arte de viver de cena em cena, nesse grande palco que é a vida. Viver a cada dia nossos personagens, sem máscaras. O difícil não é entrar em cena, e sim persistir na decência, nos valores morais por nós e em nós construídos, porque há tentações, às vezes sutis. Manter-nos fiéis aos personagens, é vive-los conforme as situações exigem, sair como entramos, de cara limpa e de cabeça erguida. Somos pessoas multifacetadas; além de terapeuta, sou mulher, mãe, vizinha, empregadora, empregada, consumidora, cidadã, amiga, avó, sogra, nora, irmã, esposa, enfim, há tantos outros personagens que fazem parte de mim e com os quais a cada dia convivo de maneira diferente, buscando paz interior e mantendo a postura de ser uma pessoa grande; dia após outro. A cada manhã temos o desafio de lutar pelos nossos impulsos, afinal, ser grande é manter o caráter, de conseguir enfim… crescer e ser “glande”!

Neusa A.Mendes

Crescer, crescendo, aprendendo
a criar um mundo aonde ser grande
e torná-lo mais mágico e suas palavras
algo a se cuidar.

Neusa A. Mendes




A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

Carlos Drummond Andrade

As viagens

Ah! Como as palavras fluem nos seus pensamentos, como ficam arranjadas de forma tão coerente em tudo que escreve; falo de Eduardo Galeano, um dos meus escritores preferidos, ele viajou muito pelo mundo afora.
Gostaria de ir além das minhas fronteiras, conhecer pessoas e fatos que fogem do comum, colecionar conhecimentos e arrumá-los nas prateleiras de minha memória e, quem sabe algum dia, colocar na ponta do meu lápis e desfrutar dessa magia que é escrever.
O meu Mundo externo é pequeno, as viagens que faço são para dentro de mim e conheço pessoas e lugares que não são comuns; meus pensamentos voam tentando captar alguma ideia capaz de traduzir os meus sentimentos e sensações plenas para realmente estar aonde nunca fui. Criar personagens e dar-lhes vida é para mim uma satisfação. Viver no passado, presente ou futuro, cabe bem na minha imaginação; mas quando pego o meu lápis a realidade me acorda e vejo que tudo que eu preciso está bem aqui na minha memória, nas coisas vividas, no olhar do outro, no coração ferido, já cicatrizado e agora muito feliz. Então, mãos à obra ou melhor dizendo, lápis à obra.
Achei por muito tempo que teria que viajar, conhecer o mundo para escrever, mas nada melhor que a experiência de vida para provar que cada um tem o seu próprio mundo (não que eu não queira viajar; conhecer as Ilhas Gregas, nadar no mediterrâneo e dançar sob a lua nas noites da Grécia, ainda é um sonho a se realizar).
Como já disse antes, eu queria ser bailarina, expor as emoções através da expressão do meu corpo. Aprendi também que para dançar não preciso necessariamente ser uma bailarina. Uso a dança para relaxar, danço arrumando a casa, danço para expressar alegria, raiva, prazer e também a uso para exorcizar as frustrações de um dia caótico.
Hoje as pessoas que se agregaram e agregam a mim, no meu tour diário, me permitem ir com elas a lugares que nem eles mesmos conheciam, descobrimos juntos fatos importantes que nos fazem conhecer o caminho de volta, sim, porque as vezes nos perdemos nos labirintos criados pelo inconsciente, mas já que estamos juntos nessa viajem, encontramos um farol que nos ensina a voltar. Todos os dias me preparo para novas viagens; caminhos desgastados pelos medos e culpas, mas durante a viagem, eles vão se transformando em caminhos seguros e bons de se caminhar, novos hábitos, culturas diferentes, bagagens tão diversas, nem dando a volta ao mundo, eu conseguiria todas essas lembranças que só no coração posso guardar. Tem viagens a dois e viagens de grupos. Os grupos me levam a tantos lugares ao mesmo tempo; é preciso ter jogo de cintura para caminharmos juntos, uns preocupados com o passado, outros com o presente e outros com o futuro, mas juntos passeamos pelo passado e resgatamos coisas perdidas, refazemos o caminho chegando no presente com as bagagens mais arrumadas e nos preparamos para o futuro. Já organizado o passado, aprendemos a caminhar no presente e o futuro é um lugar que não mais nos assusta; e no fim da viagem, nós nos abraçamos felizes; às vezes nem acreditamos que juntos a fomos a tantos lugares, observamos e aprendemos que na verdade cada um, apesar de junto, adquire experiências individuais mas todos perderam o medo de viajar; lágrimas na hora de cada um voltar para a sua vida são como souvenires, deixamos saudades e lembranças, que guardaremos nas nossas caixinhas de recordações.
Hoje é sábado, final de semana, é dia de descansar! Mas nem só de descanso se vive um fim de semana. Tenho os meus afazeres domésticos que são necessários, estando motivada ou não, e fazendo outros que me são prazerosos e que me permitem “recarregar as baterias”. Já com as malas arrumadas, na segunda vou viajar; para onde não sei. Certamente a mais lugares exóticos, interessantes, com os mesmos passageiros ou não, mas sempre bem acompanhada e tenham a certeza de que as minhas viagens, por mim, não vão parar, só quando por aqui não mais voltar. Irei feliz – Cumpri o meu papel e realizei o meu sonho de viajar.

Neusa A. Mendes



Caminho dentro de mim, descubro possibilidades, que me levam para guerra ou para a paz. Então me arrisco a ir no meu lugar preferido, os meus sonhos de menina, lá eu sempre era a rainha e promovia a alegria. A ordem do dia era sonhar. O mar. . . estava sempre aonde eu queria.

Neusa A. Mendes


Um dia especial

Acordei com o coração leve, abri a janela; o vento frio tocou no meu rosto como se me beijasse me dando bom dia, agradeci e desejei a aquele sopro de vento que ele também tivesse um bom dia; que ele tocasse em faces felizes, que entrasse pelas janelas e pudesse fazer as pessoas sentirem o quanto é bom estarem vivas, para com vida na alma, começar um novo dia. Desejei que ele fosse a lugares aonde as relações mornas não permitem que se perceba que é um novo dia; que ele os tocasse e um arrepio de frio os fizesse se abraçarem e uma nova chama viesse despertar o desejo de juntos, nesse dia, voltarem a se amar. Desejei também que ele voasse tão alto e lá de cima pudesse enxergar por todas as janelas e com o seu sopro, viesse a despertar todos aqueles que precisassem, como um sopro de vida, sentir que algo diferente aquele dia tinha para ofertar. Desejei que naqueles nos quais o vento tocasse soubessem recebe-lo, mágico... e cressem que poderiam ter um dia diferente e quando a noite chegasse, ter algo diferente para contar.
Enquanto pensava e escrevia, um sol acanhado veio a nós se juntar. Que sensação maravilhosa. Pensei: “Quantas manhãs assim já não tentaram se aproximar de mim, e eu nunca tive tempo de com eles desfrutar um início de dia que certamente tornaria tudo incomum, nada seria como uma manhã rotineira, com o dia todo girando como se fosse um filme e eu tendo que saber a que horas o pause poderia pintar e então respirar”. De repente o sol se despediu e o vento se aquietou e uma chuvinha fina veio a minha janela se apresentar; pensei -que dia! Vento, sol e a chuva, todos vieram comemorar comigo para me mostrar como tudo estava sendo tão especial. Coloquei a cabeça para fora da janela e deixei a chuva no meu rosto tocar. Sem nenhuma preocupação com qualquer observador curioso e com razão espantado; foi como se eu tivesse entrado na “fonte da juventude”, me senti uma menina cheia de vida, com vontade de ser travessa; lembrei-me com saudades dos tempos em que eu pulava amarelinha nas poças d'água, revivi com tanta intensidade que não aguentei, mesmo de pijama, desci até a portaria e aonde havia poça eu pulei descalça, olhando para cima, dando o meu rosto para a chuva beijar. Subi revigorada, como uma menina levada, tomei um banho e feminina como nunca passei um perfume suave e com um batom laranja a minha boca eu enfeitei; um lenço descolado sobre a blusa coloquei e sai para o trabalho,e como trabalhei. Foi um dia de muito trabalho, pacientes entravam e saiam, foram dez horas de trabalho… e no fim, acreditem, eu ainda tinha no coração, aquela manhã e os fenômenos da natureza, que num gesto de intimidade tão natural, me deram olhos novos. Sempre atenta no que vejo e no que ouço para não perder a mensagem correta, no que os acontecimentos tem a me dizer.
Neusa A Mendes



Guardei num retrato todos os fatos
que eu em pequenos atos, transformei
todo o meu dia, para manter na lembrança
que uma nova manhã acontece
dia após dia....

Neusa A. Mendes
VER POSTAGENS MAIS RECENTES, CLIQUE AQUI.

¨¨¨