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Adulterar

A deformação emocional provocada pela traição é externada claramente na etimologia da palavra adultério; o verbo adulterare deriva do latim; combinados ad, que significa “para” e alter, que quer dizer “outro”. O adúltero é aquele que vai para outro. A traição não se aplica somente aos casados, qualquer relação pode ser adulterada, se outra pessoa entra na relação e corrompe o casal original, o caos foi instituído.
Antropologicamente falando “ o comportamento adúltero tem suas origens no mais distante passado do homem, quando a relação entre o homem e a mulher baseava-se mais na sobrevivência. As mulheres eram totalmente dependentes dos homens para lhes dar proteção. Essa qualidade de protetores ideais os tornava hipersexuais, e os levava a buscar outras mulheres” (Dr. Warren Farrell). Ao longo da história da humanidade, os machos eram escolhidos por sua capacidade de reproduzir. Na era medieval, homens eram sacrificados após engravidarem as mulheres dos nobres estéreis; os escravos reprodutores tinham mais “regalia”. Os tempos evoluíram, mudaram e a sobrevivência hoje é vista de outra forma. Com o “espaço conquistado pelas mulheres”, já não cabe essa aceitação, não há mais a necessidade de favores sexuais em troca de proteção e sustento, hoje as mulheres são capazes de se proteger e se sustentar, embora haja ainda mulheres subservientes. E com a igualdade adquirida as mulheres atualmente, quase chegam ao mesmo nível de infidelidade dos homens. Segundo a psicanálise (C.G.Jung) a psique masculina tem características psicológicas “fundamentais”. Os homens são mais agressivos, lógicos, dominadores, competitivos e orientados para o prazer. E lá vem mais justificativas (engulam se conseguirem) para as infidelidades deles! Essa situação natural, baseada na “seleção natural” dos plantadores de suas sementes para garantir a sobrevivência da raça humana, serve de desculpas ainda nos “tempos modernos” para os homens traírem, justificam: “são raízes do adultério”. Com isso alcançaram um “direito” muito maior do que se discute; assim como o machismo, a sociedade alimenta a infidelidade masculina (padrões reproduzidos com permissão). Os homens já evoluíram o suficiente para perceberem que o que põe em risco a raça humana é exatamente a diversificação de parceiros, mas insistem nesse comportamento. As mulheres também participam desse jogo de descaso e irresponsabilidade embora sejam vistas como “vulgares” e as mais refinadas como “moderninhas”. A sociedade no geral ainda não aceita a mulher emancipada econômica ou culturalmente (há um certo lirismo pelas “do lar”). Os homens são os garanhões: “É a natureza deles, precisam de muito sexo”. Só para lembrar, há homens jovens tomando viagra. A sociedade cria seus mitos e depois não sabem o que fazer quando a coisa foge do controle. As doenças sexualmente transmissíveis são uma prova de que perdeu-se o controle sobre essas tais “raízes do adultério”.
A infidelidade infelizmente vai muito além de raízes históricas, de psique, dos hábitos reforçados pela sociedade, etc. A infidelidade quando é puramente de caráter sexual é uma forma vulgar, um passatempo imoral. O que me tira o sono mesmo é quando a infidelidade tem como fator motivador a atual relação, o tédio no casamento, a meia idade (necessidade de auto-afirmação), insatisfações existenciais que levam a pessoa a um comportamento de pura compensação, de usar seus mecanismos de defesa contra si mesma. É muito comum apaixonar-se por outra pessoa como tentativa de achar a “paz perdida”; acaba fazendo dessa pessoa uma bengala para as suas crises existenciais, somando mais sofrimento. E há quem traia por vingança, outra grande loucura. E por falta do amor próprio onde vão parar? Na mesa de um bar?
O grande responsável pela traição é a falta do amor próprio, quem se gosta não busca prazer no que é moralmente errado. Quer para si sensações que o façam estar em harmonia com a vida, com a sua vida! Busca soluções coerentes com o seu caráter. Se está difícil viver com o outro ou consigo mesmo, busque ajuda, faça terapia procurando o auto-conhecimento.
Enquanto há pessoas que não conseguem resistir à força da tentação de trair e entregam-se a ela, há os que buscam dentro de si força para não entregar-se ao poder da tentação da traição e a sua determinação em não violar os seus ideais de pessoa íntegra, mostra que a diferença entre um e o outro é o caráter.
A traição descrita por algumas pessoas que já traíram é como uma droga que no momento do ato, os fazem sentir-se poderosos, mas depois a culpa e o vazio deixam uma lacuna em suas vidas.
Trair e desrespeitar o outro é corromper o relacionamento, é deturpação dos valores morais e éticos.
Se você é machista e acha que tudo isso não passa de uma grande caretice; acredite, você pode e provavelmente vai perder o que tem e não sabe valorizar. Vai acabar só!
E você mulher, que pensa que transgredir um pouquinho aqui, um pouquinho ali não “tira pedaço de ninguém”, cuidado que um dia a casa cai!

Neusa A. Mendes

"No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam"
Carlos Drummond de Andrade

Como é triste ver o amor se desgastando, se acabando. Onde fica o valor do amor? É triste ver um poema de amor num artigo que fala sobre traição...


As sem razões do amor


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade
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